domingo, fevereiro 25, 2007

O desenvolvimento enquanto desígnio

Trinta e três anos de democracia decorridos. Trinta e três anos de “Abril”. Estranhamos uma ausência: onde está o desenvolvimento? As promessas de desenvolvimento parecem ter passado de moda. Na verdade, nem parece ser, no momento, conveniente falar dele. A buzzword, mais proferida pelos políticos, agora com todos os soundbites, é a do "crescimento económico". Até a oposição lastima o retrocesso do “crescimento económico”, ao longo destes dois últimos anos. Porém, ninguém questiona o desenvolvimento. Será que todos pensam que o país se desenvolveu? Que já somos desenvolvidos?

O crescimento económico é apenas um meio para se atingir um fim: o desenvolvimento. Mas está a ser considerado pelos nossos políticos como se de um fim se tratasse. O desenvolvimento foi esquecido.

Porque foi abandonado tal conceito nos seus discursos e nas práticas governativas? Por que razão foi abandonado, enquanto desígnio?

Somos levados a pensar que os políticos deixaram de acreditar convictamente no desenvolvimento, porque sentem que são incapazes de promovê-lo ou então, porque são medíocres.
O Professor Simões Lopes, citando Dudley Seers, lembra que “as perguntas a formular acerca do desenvolvimento de um país, de uma região, são simplesmente estas: o que é que vem acontecendo com a pobreza? Com o desemprego? Com as desigualdades? Se os três se têm reduzido (a pobreza, o desemprego, as desigualdades), não pode duvidar-se de que houve desenvolvimento no país ou região em questão.” (1)
Decorridos trinta e três anos desde o 25 de Abril de 1974, período em que governaram principalmente sociais democratas e socialistas (!), nalguns casos com maioria absoluta, questionamo-nos então: como evoluíram no nosso país os indicadores de pobreza, de desemprego, e das desigualdades? As respostas infelizmente apontam para um agravamento. Os indicadores revelam claramente, o aprofundamento das desigualdades (económicas, sociais e territoriais), o aumento do desemprego (e degradação da qualidade do emprego) e o aumento do número de pobres. Basta consultar as estatísticas, contidas nos mais recentes Relatórios de Desenvolvimento Humano da ONU, do Eurostat e de outros organismos internacionais. Decorridos 33 anos, lamentamos dizer: eis o estado a que isto chegou.
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(1) Lopes, Simões (2006), "Encruzilhadas de desenvolvimento: Falácias, dilemas, heresias", Revista Crítica de Ciências Sociais, n.º 75, Outubro 2006, pp. 41-61.

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