terça-feira, julho 17, 2012

Era uma vez o Estado social







 ***

Há pouco mais de um ano Pedro Passos Coelho (PPC) revelava que a sua política social estaria completamente submetida à política económica. Das suas palavras depreendia-se que ele acreditava que o crescimento económico precedia o Estado social - o crescimento económico seria aúnica forma verdadeira e duradoura de defender o nosso Estado social”. O que nos leva a concluir que, de acordo com a sua concepção, sem crescimento económico não pode existir justiça social. Ou, por outras palavras, o Estado social e a justiça social só se cumprem nos momentos de prosperidade. E assim chegámos à circunstância catastrófica em que hoje nos encontramos: uma situação de recessão, com crescimento do desemprego para níveis nunca antes observados e expansão da pobreza, acompanhados pela retracção da protecção social. Ora é exactamente quando o infortúnio se multiplica que a protecção social é mais necessária, contudo está a acontecer exactamente o oposto: os indivíduos estão em queda, ou o risco de queda é maior, porém a rede está a ser retirada.

Ontem PPC tornou a focar a questão da injustiça inerente à desigual distribuição do rendimento, contudo, não se atreveu a falar da necessária protecção social. Como o poderia fazer se acredita que tal só é possível com crescimento económico e este não ocorre?

Mas se PPC enfatiza o papel do Estado na redistribuição da riqueza, ignora a questão da protecção social, a mais cara ao Estado social e que está no seu cerne, de acordo com Bauman (2007: 65):

Ao contrário da opinião já amplamente aceite, é a protecção (o seguro colectivo contra o infortúnio individual), e não a redistribuição de riqueza, que está no cerne do "Estado social" a que o desenvolvimento do Estado moderno inflexivelmente conduziu. Para pessoas privadas de capital económico, cultural ou social (todos os activos, de fato, excepto a capacidade de trabalho, que cada um não poderia empregar por si mesmo), "a protecção pode ser colectiva ou nenhuma”.

Passado mais de um ano de governação, Portugal não cresce, o Estado social está a ser desmantelado e a desigualdade na distribuição do rendimento tende a aumentar. A política social do Governo falhou em toda a linha porque a fez depender do crescimento económico e este, nem vê-lo.

 __________________________________________________

Referência

Zygmunt Bauman (2007). Tempos Líquidos. Zahar, Rio de Janeiro.

Etiquetas