domingo, dezembro 16, 2012

Do neoliberalismo e dos que não crêem em tal (2)


A propósito disto e disto.

Há algum tempo atrás, nos idos de 2008, Vasco Pulido Valente (VPV) anunciava no Público que vivíamos numa Era onde as ideologias já não tinham lugar. Em curtas palavras, lembrava-nos a morte das ideologias. Esqueceu-se porém da ideologia dominante, nascida das cinzas das lutas ideológicas: o neoliberalismo (sabemos que muitos não ousam qualificá-lo como uma ideologia, preferindo chamar-lhe doutrina, enfim um anexo do capitalismo ou uma forma de capitalismo tardio, mais agressiva e invasora). O neoliberalismo emergiu das cinzas do fim do conflito entre o comunismo, enquanto projecto alternativo, e o capitalismo (*) e passou a dominar o mundo, embora tivesse de arrumar primeiro com a social-democracia e com o welfare state, que ainda resiste nalguns bastiões. O neoliberalismo não deve ser confundido com o antigo liberalismo. O neoliberalismo é aquilo em que o capitalismo dominante, tardio e vencedor, se tornou ou se transmutou. Depois da implosão do comunismo soviético, que por milagre lhe saiu da frente, foi a social-democracia o próximo alvo a abater.

Vasco Pulido Valente (VPV) não era um intelectual provinciano, pelo contrário, pertencia a uma elite cosmopolita pois era um daqueles que tinha "um olho em terra de cegos": “estudou” lá fora, andou pelas terras de Oxford. Ora nesse tempo do “orgulhosamente sós”, esses intelectuais cosmopolitas, arredados da "piolheira" e afastados das massas populares (dos "indígenas", da "populaça"), tinham o privilégio de trazer ideias novas e frescas do exterior. Os intelectuais provincianos, esses nacionalistas, foram os que ficaram (não por acaso, Maria Filomena Mónica, outra intelectual da outrora elite cosmopolita, agora tornada provinciana, considera “parolo” o actual nacionalismo - pode sê-lo, mas não o é o patriotismo). Mas a verdade é que VPV deve andar há muito arredado do que se escreve e debate na Academia. O homem provincianizou-se, só pode, porque se atentasse, por exemplo, no que actualmente escrevem os académicos britânicos e norte-americanos, entre outros, em particular na área das Ciências Sociais e das Humanidades, facilmente verificaria que o neoliberalismo é um conceito corrente, não só entre os radicais de esquerda. Que saia mais do Gambrinus e que vá ver o mundo.

É que o mundo mudou!



(*) Quando o comunismo soviético começou a decair nos anos 80.

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