domingo, maio 12, 2013

Consciência e existência


Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, pelo contrário é a sua existência social que determina a sua consciência.

Karl Marx (1859)




Não! Não existem por aqui palas ideológicas para ler e interpretar a realidade. A realidade é demasiado travessa para se conformar às ideologias inventadas pelos homens. Mas que nisto e em muitas outras coisas Marx tinha razão, lá isso tinha.

Noutro lugar* lemos uma referência à sua famosa máxima de que “as pessoas fazem a sua própria história, mas não sob as condições que elas mesmas escolhem” (Marx, 1852, citado por Herod, 2011).


Não somos nós que escolhemos a circunstância que nos acolhe quando chegamos a este mundo e no entanto, nós também somos a nossa circunstância, como diria Ortega y Gasset. Uma circunstância que está para além da nossa capacidade de escolha. E a circunstância, ou o contexto envolvente, não se limita a condicionar a história que construímos; compreende também a geografia que construímos. Então os geógrafos fizeram um acrescento à famosa máxima de Marx: as pessoas fazem também a sua própria geografia, embora, da mesma forma, não sob as condições que elas mesmas escolhem.

E tudo isto é trágico, quando pensamos para além das classes sociais e consideramos, por exemplo, a discriminação do género. Quando abrimos um livro da história do pensamento filosófico, ou sociológico, ou etc., da civilização “x” ou “y”, rapidamente verificamos que não existe uma mulher à cabeça de uma das grandes escolas do pensamento (para dizer a verdade, nem à cabeça, nem aos pés); as mulheres foram tratadas como seres acéfalos, incapazes de dar origem a uma qualquer escola de pensamento até ao final do século XIX. E será isto verdade, que elas não pensavam? Claro que não! Foram apenas vítimas de circunstâncias que não escolheram, e essas circunstâncias adversas, históricas e sociológicas, remetiam-nas ao silêncio.

Os homens foram os grandes donos da história e da geografia, do espaço e do tempo. Diz-se que por detrás de um grande homem, havia sempre uma grande mulher. Por detrás! Mal delas se se colocassem à frente. E é aqui que reside uma das grandes tragédias da humanidade. Quantos grandes pensamentos e aptidões foram silenciados, ou simplesmente ignorados, impedidos de florescer na história do pensamento, e não só, na arte e na cultura, enfim em todos os domínios da vida humana e social? Quão diferente seria o mundo actualmente, se a par do pensamento dos grandes pensadores, tivesse ecoado o pensamento das grandes pensadoras? E o mesmo se poderia dizer, relativamente aos artistas, militares, cientistas, viajantes, navegadores, etc.
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Referências

Aron, Raymond, As Etapas do Pensamento Sociológico, Publicações Dom Quixote, 9ª edição, 2010, p. 155.

Herod, Andrew (2011), “Class – Part I” in John Agnew and James Duncan (ed.), The Wiley-Blackwell Companion to Human Geography, Blackwell Publishing, 2011, pp. 415 – 426.

1 comentário:

  1. É isso mesmo que Meu Contrário diz a Minha Alma, nem sabia que o citava... Acho que sou um marxista empírico!

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