sábado, setembro 28, 2013

África abaixo

Os países são feitos de pessoas, e eu acredito que a maioria das pessoas é feita bem. É feita de valores universais, que permitem a qualquer viajante sentir-se em casa quando se sente rodeado desses valores. O sorriso, a solidariedade, o bom-senso, a alegria, a música e a amizade valem mais que a corrupção, a desonestidade, o ódio, os preconceitos raciais, os estereótipos sociais. Viajarei com o primeiro grupo de valores na bagagem, para trocá-los por outros iguais ao longo da viagem. E como não os quero só para mim, depois de trocá-los, irei partilhar tudo.”

Gonçalo Cadilhe, África Acima, Oficina do Livro, 2007, p. 19


Conforta-me saber que existem viajantes experimentados que, depois de terem visto o mundo, ainda assim guardam uma confiança incondicional no ser humano, esse perigoso animal mais imprevisível do que um tubarão.

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Não é que Gonçalo acredite viver no melhor dos mundos, como o doutor Pangloss, na história de outro grande optimista. Gonçalo não é ingénuo. Mas sabe que pode aventurar-se pelo mundo com relativa segurança, uma vez que sempre existem ilhas com bons ancoradouros onde poderá abrigar-se das tempestades.


Depois de ter lido as desventuras de Serpa Pinto pelas terras da África Austral no final do século XIX, e a história da travessia de Paul Theroux no século XX, do Cairo ao Cabo, sinto curiosidade em saber como se sairá Gonçalo Cadilhe nesse continente que é encanto e desencanto, que é sonho e pesadelo, que é tudo e o seu contrário.

Vou ler.


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África Acima?! Depende da perspectiva. Podia ser África Abaixo. Perdoem-me a embirração, mas na Geografia não existe essa coisa do acima e do abaixo, da esquerda e da direita. Orientamo-nos por pontos cardeais, colaterais e intermédios e pelas coordenadas geográficas. Esta obra de Gonçalo (não conheço as outras) também não prima pela cronologia. Ele parte, ele chega, aqui e ali, mas quando, senhores? Onde estão as datas? Sei que publicou os relatos periodicamente no Expresso, mas para quem não leu, ajudaria a que no livro viesse referenciada a cronologia da viagem, das partidas e das chegadas. É só uma sugestão para futuras edições.

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