terça-feira, agosto 05, 2014

No mundo disfuncional onde nos é dado viver

Ele [o mundo disfuncional onde nos é dado viver] é caracterizado por um processo, iniciado de modo mais sistemático no dealbar os anos de 1980, e que se traduz numa enorme expansão do capital financeiro (suplantando em muito a produção de bens e serviços da chamada «economia real»). Por outro lado, regista-se um enorme aumento da concentração de riqueza, a nível global, facilitado pela quase irresponsabilização da circulação de capitais, com a correspondente perda de peso da componente de rendimentos do trabalho nas economias nacionais. A globalização permitiu a criação de uma elite mundial, transnacional, capaz de influenciar ou mesmo determinar as agendas políticas nacionais e internacionais. 

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O «sistema bancário sombra» (que efectua operações bancárias sem ser submetido à disciplina do bancos oficiais) movimentou 67 biliões de dólares norte-americanos em 2011 (111% do PIB mundial).

Viriato Soromenho-Marques, Portugal na Queda da Europa, Temas & Debates/Círculo de Leitores, pág. 109

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O crescimento exponencial da componente dos rendimentos do capital financeiro no rendimento global planetário ditou uma desvalorização relativa dos rendimentos do trabalho.

Paradoxalmente, no “mundo disfuncional onde nos é dado viver”, a acumulação de riqueza é, cada vez mais, independente do trabalho, daí que se assista hoje, mais do que nunca, à destruição inescrupulosa de estruturas económicas nacionais e à precarização do trabalho, com as inevitáveis consequências na vida do trabalhador, que, ironicamente, já empobrece a trabalhar. O trabalhador, no “mundo disfuncional onde nos é dado viver”, é cada vez mais prescindível. Neste mundo, o especulador vence em toda a linha. O capitalismo financeiro é mais sedutor do que o capitalismo industrial e industrioso. O dinheiro enquanto mercadoria é já a principal variável da equação. Dinheiro gera dinheiro, riqueza gera riqueza. O trabalho é deixado para trás, enquanto prossegue o processo de concentração do rendimento e da riqueza.

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