domingo, outubro 19, 2014

Safo

     Charles-Auguste Mengin, Safo, 1867, Manchester Art Gallery

Quando morreres,
hás-de jazer sem que haja no futuro
 memória de ti nem saudade. É que não tiveste parte
nas rosas de Piéria.
Invisível, andarás a esvoaçar
no Hades, entre os mortos impotentes.

Safo, Lesbos, Séc. VII-VI a.C.
(traduzido por Maria Helena da Roca Pereira, in Hélade)

***

Mais de dois mil e quinhentos anos nos separam, imortal Safo.
E poucas foram as vozes femininas desse tempo que chegaram até nós.
Contudo a tua ainda soa - tu, que participaste nas rosas de Piéria - entoando cânticos e declamando poemas às primeiras horas da Aurora.

Sei que ainda percorres descalça as praias de Lesbos com a tua harpa,
enquanto o teu olhar divaga no mar, 
insaciado, insatisfeito, invadido pela saudade.
Transporta um desejo obsessivo de reencontro impossível.
Daí a profunda dor que canta
Por um ardente amor ausente.

Distante. Sempre.

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